Hoje ocorreu-me falar deste tema. Estava na banheira a tomar duche quando me surgiu assim do nada — há quem cante debaixo de água, eu filosofo e penso… na Vida. Nunca li seja o que for sobre “percurso(s) de vida” nem mesmo consultei a Wikipedia, por isso vou aqui deixar o que eu acho sobre o assunto.
O percurso de vida é assim, tipo, como que andarmos num passeio no qual os incautos se arriscam a pisar o cocó que os outros deixaram para trás. Isto, claro, só acontece aos mais distraídos. Os mais atentos gabam-se de ter feito um percurso sem incidentes nem necessidades de limparem os pés no capacho que pode ser as costas de alguém (também estes a percorrerem o seu próprio caminho). O percurso de vida, tal como o vejo, é uma inevitabilidade. Desde que se nasce até que nos finemos, todos fazemos uma espécie de balanço daquilo que foram os resultados das nossas escolhas, ou falta delas. É isso: ele é sempre pensado em termos de Passado. Nunca (ou raramente, vá) as pessoas pensam nele em termos do Futuro. “O que virei ainda a percorrer? O que estará perante mim e como lidar com isso?”
Eu sou dos que se inclui no primeiro grupo, na maior parte do tempo, embora admita que também tento avançar o bio-relógio para ver o que poderei “ser”, ou o que me poderá esperar ao virar alguma esquina da vida. Mas é quase sempre uma tentativa falhada. É mais fácil, admito, olhar-se para trás e chegar a uma série de constatações sobre aquilo que fomos e por que já passámos até ao momento em que pensamos nisso. O meu? Não me orgulho dele, se considerar os anos mais recentes (uns dez, doze). Digamos que me fartei de pisar cocó e só “agora” olho para a sola dos sapatos! É que nem a merda me cheirou, a não ser quando parei um bocado — finalmente! — e comecei a olhar à volta. Como não sou daqueles que limpam (nunca consegui nem tentar) as solas em costas alheias, para usar a imagem que acima criei, não tive outro remédio senão olhar para a coisa de frente e tomar decisões. “OK, o que podes fazer para limpar a porcaria?” Ora aqui reside outra parte chata do “percurso de vida”: quando se pensa nele, versão ‘Passado’, é quase sempre para lamentar alguma coisa! E parece que só tem sentido depois de acontecer… Além do mais (terceira chatice associada) serve quase sempre para que terceiros, estranhos mesmo, nos avaliem! “Fulano-de-tal teve um percurso de vida x e y…” dito assim, em conversas de corredor, como se estivessem num velório. Arrepiante, é o mínimo que posso dizer para classificá-lo.
Decidi há já algum tempo que ia mudar este estado de coisas. Doravante e sempre que, no chuveiro ou noutro local, me puser a pensar no (meu) “percurso de vida”, quero fazê-lo com a consciência de que fiz as minhas escolhas mas que me mantive devidamente atento ao trilho e, muito mais importante, consciente de que na vida os percursos não se fazem sozinhos. Há sempre alguém ao nosso lado, alguém que nos ajuda a valorizá-los e que os (e “nos”) enriquecem. O meu “percurso de vida” jamais será o mesmo, quando nele pensar daqui a uns anos. Mas sei que vai ser bem melhor que o anterior.
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