segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As canções e a vida

É impressionante, a coincidência entre certos estados-de-espírito e aquilo que se ouve, musicalmente. Começo por falar da música. Neste momento, em viagem para o trabalho, acabo de ouvir "I Don't Know What I Can Save You From" e "Failure" (vídeos mais abaixo, com respectivas letras). Ambos os temas são dos noruegueses Kings of Convenience e foram editados no seu 1º álbum, intitulado Quiet Is The New Loud (2001).

Agora as emoções. Ando há meses, qual crisálida renitente, a passar por um processo pessoal e emocional tremendo e que se prende com um relacionamento falhado, após algumas décadas. São 25 anos de casamento e mais uns 10 e picos "por fora" (com a mesma pessoa). Mas nem sempre ele foi "falhado" (há que admiti-lo), mas a insistência em certos comportamentos e situações (em ambos os lados) minaram-no a ponto de nem eu próprio me conseguir mais rever nele. E havia, tarde ou cedo, que lhe pôr um fim. Para quê prolongar uma agonia quando se pode eutanasiar algo que já não vive a não ser na cabeça de uma das pessoas e mesmo assim sem grande convicção? E eu tentei normalizar as coisas. Juro que tentei e não por uma ou duas vezes. (sendo algo de tão pessoal, para que estou pr'aqui a falar nisto, pergunto-me?)

Fará sentido insistir-se em comportamentos socialmente aceitáveis apenas para manter aparências? Para bem de quem, ou com que comodidade em vista? Mesmo tendo alguém a dizer-nos "Eu amo-te", será válido questionarmos, não digo a honestidade, mas a actualidade deste sentimento? Não entrarei aqui em detalhes mas a verdade é que num casal, "amar" não é — hélas! — TUDO... É importante. Muito importante. Mas há outros valores que têm de ser igualmente nutridos, alimentados, fomentados, partilhados e respeitados (de ambos os lados). Para esta pessoa, pelo menos, não chega. Ia ao ponto de chegar mesmo a questionar-me da justeza desta situação, da ruptura iminente. Seria inevitável? Até que ponto seria legítimo ou desejável perpetuar algo que já não existe?

Mas nem tudo se deve ao que exponho. Há outros episódios (de parte a parte) pelo meio, que já eram sintomas de que algo não estava bem. Não entrarei aqui em detalhes escusados — há limites para revelações "públicas" da nossa vida íntima — mas é verdade que, em retrospectiva, dificilmente um casal sobreviveria como tal por muito mais tempo. Mesmo assim e desde a crise anterior decorreram quase 11 anos. Há filhos envolvidos (um deles, ainda bebé) e isso, na época em que os outros dois eram respectivamente adolescente um e infante, o outro, teve um peso importante em certas decisões. Agora, já não servem para tal, nem mesmo o mais pequenino. Todos os limites de qualquer tolerância que fosse devida foram ultrapassados e re-ultrapassados. Há que avançar e viver com a ideia de que tenho de pensar em mim e na minha felicidade, tentando depois dar o meu melhor aos meus filhos (os mais velhos dos quais nem sequer me falam há meses). Até porque me recuso a passar a outra metade da vida que me reste (se vivesse até aos 100, LOL) da forma como a vivi nos últimos anos. Basta! Tenho de ser mais inteligente do que isto. Acima de tudo, de me sentir mais humano e realizado do que até agora. Quem está à minha volta não merece menos do que isto. Falhei. Mas quero, ao menos, tentar acreditar que vou (estou!) a aprender com os erros passados. Doa a quem doer, a começar por eu próprio. Como dizem os KoC:

"Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal"

Cá vão eles, os temas de que falei. Temas estes que, confesso, são sempre muito bons independentemente da mensagem, da música, da hora a que os desfrutemos ou da forma como cada qual os queira entender. Ou absorver.


"I Don't Know What I Can Save You From"





You called me after midnight,
must have been three years since we last spoke.
I slowly tried to bring back,
the image of your face from the memories so old.
I tried so hard to follow,
but didn't catch the half of what had gone wrong,
said "I don't know what I can save you from."

I asked you to come over, and within half an hour,
you were at my door.
I had never really known you,
but I realized that the one you were before,
had changed into somebody for whom
I wouldn't mind to put the kettle on.
Still I don't know what I can save you from.



Failure





Using the Guardian as a shield
To cover my thighs against the rain
I do not mind about my hair

Your jacket may be waterproof
But I know the moment you get home
You're gonna get your trousers changed

Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal

I wish I could travel overground
To where all you hear is water sounds
Lush as the wind upon a tree

I wish I could travel overground
To where all you hear is water sounds
To capture and keep inside of me

Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal

Failure is always the best way to learn
Retracing your steps until you know
Have no fear your wounds will heal

1 comentário:

  1. Meu caro, estava à espera de tudo menos de um post destes...leio e se é que posso comentar alguma coisa, apenas isto: toda a gente tem direito a ir à procura da felicidade. Seja o que for, seja onde for, mesmo com custos grandes. Porque ninguém à nossa volta ganha nada quando estamos profundamente infelizes. É isso, um abraço e felicidade(s).

    (Catarina Campos)

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